Objetivo


Usando a metáfora da Caverna de Platão , o objetivo do documentário Branco, Prata e outros Tons é mostrar ao público em geral as opiniões de mulheres que estão literalmente descobrindo seus cabelos brancos, curtindo o visual que veem no espelho e propondo, com isso, uma mudança no paradigma social.


Trata-se de mulheres em diferentes faixas etárias, etnias e grupos socioculturais que, nos dias atuais, ousam parar de pintar seus cabelos e estão dispostas a compartilhar sua proposta de uma estética alternativa – nem moralista, nem julgadora, nem impositiva. Registrar o que as levou a encarar o novo visual e entender quais foram as críticas, restrições e constrangimentos que tiveram que enfrentar, pode ajudar outras mulheres que não tiveram a coragem e a ousadia de quebrar os padrões socialmente adotados de esconder os fios brancos que teimam em aparecer.


O documentário terá como fio condutor entrevistas com mulheres entre 50 e 70 anos, que pararam de pintar seus cabelos. Espera-se entrevistar aproximadamente 20 mulheres, buscando captar diferentes segmentos da população da cidade de São Paulo. Serão entrevistadas também algumas mulheres mais jovens, que optam por não cobrir com tinta os fios brancos que começaram a despontar.


Entremeando essas entrevistas serão apresentadas outros relatos e quadros que enfoquem essa questão do ponto de vista histórico, social, étnico, mitológico e geográfico.



Justificativa


Dois terços de todas as pessoas que chegaram a completar 65 anos ao longo de todos os tempos, ESTÃO VIVAS HOJE! Essa é uma medida interessante da transição epidemiológica que está ocorrendo nas últimas décadas. Os avanços na área médica e tecnológica tem permitido ganhos importantes na esperança de vida da população e mais pessoas conseguem chegar à terceira e quarta idades.


Viver mais todos queremos. Mas a maioria dos sexagenários não está pronta para conviver com os problemas que aparecem com a idade. Todo mundo acha que velhos são os que têm 20 anos mais que a gente. Vai-se driblando as perdas, contornando as mágoas, escondendo os sinais, resistindo às dores, ocultando as frustrações, camuflando a realidade.


No caso das mulheres, essa estratégia exige a busca de um visual que aparente menos idade do que realmente se tem. Pintar os cabelos, usar maquiagem, depilar as sobrancelhas, preencher as rugas, e fazer cirurgia plástica estão entre as ferramentas disponíveis para que as mulheres possam continuar tentando vencer o desgaste inexorável imposto pelo tempo e pelo processo de envelhecimento.


É preciso tentar romper com o paradigma de que velho é feio, inútil, ultrapassado . Urge construir novos paradigmas e oferecer outras opções.


Cabelos brancos nos homens os tornam mais charmosos e nobres – ou pelo menos é assim que as mulheres os veem. Mas quando os cabelos brancos aparecem na cabeça das mulheres, elas agem rápido para encobri-los, antes que alguém se aperceba dos sinais do tempo na moldura de seus rostos.


Este documentário se propõe a contribuir com a tentativa de desatrelar o conceito de beleza do conceito de juventude e mostrar mulheres que deram as boas vindas aos seus cabelos brancos e que se sentem bem, bonitas, e poderosas.



Sinopse


A proposta do documentário  entrelaça momentos de depoimentos em primeira pessoa, feitos pela narradora, como trechos de um diário, com conversas da narradora com outras mulheres de 40 a 70 anos de idade, resultando em um panorama diverso de experiências pessoais femininas. As entrevistas, espinha dorsal do documentário, terão um caráter de diálogo, de um bate-papo entre duas mulheres. Essa opção nos permitirá estabelecer um tom menos formal às entrevistas.

Procuraremos acompanhar um processo de “embranquecimento” de algumas personagens, a serem identificadas durante a pesquisa, que planejam deixar a tintura de fora. O crescimento dos cabelos brancos será tratado de modo delicado, observando, com a utilização de enquadramentos extremamente próximos e com o uso de uma luz natural, o valor estético da cor e das tonalidades que surgem. Ao longo do documentário, ampliaremos o recorte visual para compor imagens que apresentem os cabelos brancos como molduras formosas do rosto da mulher madura.

Ao mesmo tempo, como contraponto ao que queremos reforçar, buscaremos trabalhar com imagens dos salões de beleza, de mulheres tingindo seus cabelos. Sem entrar no mérito, apresentaremos o processo penoso de tintura, como necessidade construída culturalmente.

Um recurso expressivo forte que utilizaremos também será o das imagens de arquivo pessoais das entrevistadas e da nossa própria personagem central. Olhar para as fotos de nossas avós e bisavós, com seus coques prateados, nos permitirá perceber as mudanças entre o contexto atual e o do passado em relação à imagem da mulher idosa.

Ainda no recurso das imagens de arquivo, traremos um olhar para a imagem que a mídia apresenta das mulheres. Construiremos um paralelismo entre as mulheres apresentadas na publicidade e no cinema e a imagem de mulheres reais, que assumiram o visual “embranquecido”, como atrizes, modelos e figuras políticas de destaque. Esse paralelo será construído também com imagens de mulheres de cabelos brancos em situações do cotidiano, em tomadas nas ruas e demais espaços públicos.

O documentário terá como opção estética de montagem a dissociação entre a imagem das entrevistadas e suas falas, evitando a imagem redundante da fala, trazendo-a somente quando a emoção na expressão facial estiver em destaque.

Há décadas a tintura de cabelos tem estado presente na vida das mulheres, uma prática considerada imprescindível para a manutenção de um padrão de imagem esteticamente aceitável para uma mulher madura. O mesmo padrão porém não se aplica à realidade masculina, na qual os cabelos brancos sempre foram considerados sinais de charme e beleza.

No entanto, podemos observar uma mudança em relação a este paradigma. Já há alguns anos, mulheres que se aproximam da maturidade tem se questionado sobre esse olhar negativo e dando as boas vindas aos seus cabelos brancos. Elas pertencem à geração que não quer esconder essa evidência do avanço da idade e que, pelo contrário, está interessada em assumir uma nova moldura para o rosto, marcado pela passagem do tempo.

Acreditamos que neste ato de aceitação de seu próprio corpo, encontraremos uma série de questões que podem ampliar o nosso entendimento sobre a auto-imagem das mulheres e nossa humanidade.

Para isso, o documentário terá como fio condutor entrevistas com mulheres em duas faixas de idade: entre 35 e 55 anos, uma etapa anterior à terceira idade, quando os fios de cabelos brancos começam a aparecer; e entre 60 e 75 anos, quando o branco já toma conta da cabeleira. Nesta segunda faixa etária, nosso foco será nas mulheres que pintavam o cabelo e romperam com a prática.

Procuraremos enfocar primeiramente as razões que teriam levado essas mulheres a deixarem os cabelos brancos. A partir dessa primeira questão, outras surgirão, tais como:

  • Quais as reações que elas tiveram que enfrentar uma vez feita a mudança: frente ao espelho, ao marido, a filhos (que também se incomodam com a mudança de visual na mãe), frente a outras mulheres (amigas, colegas, vizinhas), frente a outros homens, e finalmente frente aos colegas no ambiente de trabalho (o que muda na relação?)
  • Contexto familiar: procuraremos entender as historias das mulheres da família – mãe avós, bisavós – o visual dessas ancestrais incomoda ou é fonte de inspiração?
  • Praticidade – até que ponto a vida ficou mais fácil sem ter que ir ao cabeleireiro, nem botar química, não fica manchas escuras no rosto?
  • Custos: qual o impacto financeiro? As tinturas frequentes são parte relevante no orçamento pessoal, principalmente em se tratando de mulheres da classe média e baixa.
  • Por outro lado, talvez os cabelos brancos exijam uma pele mais cuidada, uma dose maior de maquiagem, mais capricho no vestir, para dissociar os cabelos brancos da velhice, abandono ou desmazelo.
  • Como foi a transição, já que não dá para ficar branco de um dia pra o outro.Os processos dos retoques, trevas, ou luzes ao contrario.

Espera-se entrevistar entre 10 e 20 mulheres, buscando captar diferentes segmentos da população da cidade. Mais três grupos de mulheres que abordaremos nas entrevistas:

- As que têm mais de 60 anos e nunca pintaram – elas têm uma perspectiva diferente para se olhar como precursoras de um novo modelo?

- As que sempre pintaram mas que declaram não terem tido a coragem de assumir outra opção. Elas reconhecem em algum momento queriam ter parado de pintar e seria interessante conhecer quais foram as grandes resistências que não permitiram que elas fossem em frente. Da onde vem o olhar tão critico em relação a sua própria imagem?

- Sem construir julgamentos, tentaremos também identificar algumas mulheres que batem o pé e não querem nem ouvir falar de parar de pintar.

Entremeando as entrevistas serão apresentados outros relatos e quadros que enfoquem essa questão do ponto de vista histórico, social, étnico, mitológico e geográfico.

Olhando a linha do tempo, pode-se observar as ancestrais celebrações dentro da cultura celta, na lua cheia, em homenagem às matriarcas que chegavam a viver o suficiente para ter suas madeixas embranquecidas.

E finalmente, tentaremos abordar até que ponto a cultura e as tradições étnicas podem levar a mudanças nesse padrão. Traremos aspectos, tanto nas entrevistas quanto nas imagens de arquivo e pesquisa, de como a cultura oriental e a população negra enfrenta a questão.

O documentário perderia um argumento importante se não procurasse entender porquê os mesmos cabelos brancos na população masculina são considerados uma fonte de charme e nobreza enquanto as mulheres não conseguiram se apropriar dessas características que os cabelos brancos podem trazer.

Ao longo do caminho, quem sabe seja possível identificar de onde vem a maior crítica: dos homens ou das outras mulheres? Dos mais velhos ou dos mais jovens?

Entre as cenas de fundo e os discursos apresentados nas entrevistas, pretendemos contar essa história dos cabelos brancos que estão ganhando as luzes da ribalta e que podem mudar os padrões socialmente adotados e a cara da terceira idade.